On the road, coisas desiguais...

Vivemos um período confuso, musicalmente falando. Às vezes me pego meio que policiando o que meus amigos ouvem, em que situação tocam certas músicas, enfim...
O certo, para mim, é que estamos vivendo a era da descentralização da cultura musical. 

 - "Que ótimo! Maravilha! Lindo, perfeito!!! Descentralização da cultura".

Perfeito uma vírgula! Não me refiro à descentralização enquanto fator de proliferação do conhecimento. Também não estou falando da descentralização do poder de consumo, retirando-o das mãos da elite (e, afinal, o que é elite hoje em dia?), para torná-lo acessível às minorias (e me diga: o que é minoria hoje?). Me refiro sim à descentralização da noção de cultura enquanto elemento perpetuador de conhecimento e atividade social. Ou, como diz o meu Aurélio digital:

"Categoria dialética de análise do processo pelo qual o homem, por meio de sua atividade concreta (espiritual e material), ao mesmo tempo que modifica a natureza, cria a si mesmo como sujeito social da história." 

Esse é o conceito filosófico de cultura, segundo Aurélio Buarque de Holanda (Se ele for realmente o pai dos dos burros, quero que me adote!).

Enfim, voltando à música, estamos vivendo dias de do tchutchatchá, enquanto a poesia e o rítmo perdem espaço. É a essa descentralização que me refiro. Descentralização racional do que vem a ser música! 


Pelo amor do pai! isso aqui é que era sertanejo:

Décadas antes, dizia-se que "Nega do cabelo duro que não gosta de pentear" era coisa para vagabundo cantarolar atrás de um trio elétrico. Quem tinha conhecimento, classe, pompa, frescura.... ops! Escapou! Enfim, quem tinha bom senso ouvia Caetano, Gil, Elis, Chico...
Hoje em dia, no entanto, aqueles que outrora foram a elite, que se orgulhavam de possuir toda a "cultura" em detrimento "daqueles miseráveis da periferia", gastam seu tempo e dinheiro Na "swingeuira do papai" ou "só no cavalinho"

Ai, ai! Que saudade de Luíz Caldas e seu "Fricote"... aquilo era baixaria com classe!


Lembro-me de minhas tardes trancado no quarto curtindo dores de cotovelo ao som de Legião de Urbana. "Se fosse só sentir saudade... mas tem sempre algo mais". Dá pra acreditar que fiz tanto rodeio só pra chegar até aqui? Só pra tocar no assunto. Só pra falar que quero compartilhar boa música com vocês. Tenho que aprender a ser mais direto.

Enfim, a partir de hoje, o espaço "Cult" do Outside vai ser, também, nosso canal para trocar experiências musicais. Não quero fazer disso uma via de mão única, então comentem, sugiram, critiquem, me mandem calar a boca, me chamem de "my endless love",  fiquem à vontade. 

Começo com uma banda que não falta em minha playlist: Legião Urbana, formada em 1983 por Renato (Russo)  Manfredini Jr., Marcelo Bonfá, dado Vila Lobos e Renato Rocha. A banda, criada na Asa Norte de Brasília, era básicamente o espólio do "Aborto Elétrico", grupo formado anos antes Por Renato Russo, André Pretórius e Fê Lemos. Com o fim do Aborto, Renato Resolve montar outro grupo e assim começo a história da maior banda de rock do país.


Depois de muitos desencontros, Renato Rocha sai da banda após o lançamento do terceiro álbum (Que país é este?) e a banda segue com os três componentes restantes até 1996, quando Renato Russso, já fragilizado pela aids vem a falecer no dia 11 de outubro. Renato deixou uma verdadeira Legião de fãs, tão órfãos quanto seu filho Giuliano (concebido por uma fã). 

Até hoje a Legião é cultuada como a maior banda PUNK, a maior banda FOLK, a maior banda UNDERGROUND... de fato, Legião Urbana teve todas essas fases, mas, o mais marcante, sem dúvida era o fato de que você sempre encontrava aquela música que te fazia pensar: "Caramba! isso foi esccrito pra mim...". A sensação que toda boa música de verdade te traz.
Reanato Russo, Rocha, Dado e Bonfá. A primeira formação da
Légião Urbana

Aos interessados, segue link para download de todos os álbuns da Legião:

Discografia:


A lenda do Cavaleiro das trevas - Parte 2: Voltamos, enfim, ao início.


À esquerda, capa de All American Comics #16 (de 1940)
- Primeira aparição do Lanerna verde da era de ouro.
À direita:  Showcase Comics (de 1959)
- Primeira aparição do novo Lanterna Verde (era de prata - moderna).
Como visto anteriormente, a década de 1950 representou o purgatório das HQ’s nos EUA, com reflexos perceptíveis por todo o globo. Mas, de onde surgiu essa aversão desenfreada do Dr. Wertham ao gênero?  Por que a crucificação de personagens que, até então, representavam o ápice da benignidade humana? Voltemos uma década. 1945. Segunda Guerra Mundial... no auge da batalha, o governo norte-americano enviava às tropas, além de mantimentos e aparato militar, revistas em quadrinhos; não apenas como distração para as mentes sufocadas pelo horror da guerra, mas, também, como incentivo aos ideiais de patriotismo e perseverança nas tropas. Nesse período era comum ver personagens como Batman, Superman e outros no campo de batalha, montados em canhões, enfrentando HitlerMussolini ou Hiroito. As vendas de histórias em quadrinhos estavam em alta, mas isso mudaria drasticamente com o desfecho da guerra. Era o início do fim para a era de ouro dos quadrinhos.
Capa de The Flash #123 
apresentando o encontro
 entre as duas versões do personagem.


Por conta do Comics Code Authority, muitos títulos foram cancelados. Alguns personagens clássicos como Flash e Lanterna Verde ganharam novas versões para tentar se adaptar aos novos tempos; outros, foram perdendo público até serem descartados de vez. Com o Batman, a situação não era muito diferente...
O que poderia ser feito para retornar o Cavaleiro das trevas aos seus dias de glória? No início dos anos 60, personagens mais populares como Superman e Batman sobreviviam aos trancos e barrancos. O primeiro apegava-se às incontáveis franquias vinculadas ao seu nome (brinquedos, desenhos animados, séries de rádio e televisão, cinema); Já o Batman via a legião de fãs conquistada nos primórdios da era de ouro se esvair a cada dia, em grande parte por conta do perfil infantil que suas histórias vinham tomando, com roteiros cada vez mais cômicos e vazios. A chegada do seriado televisivo de 1966 foi, para muitos, a gota que faltava para o funeral simbólico daquele que já foi um dos maiores ícones da banda desenhada.







E disse Adams: "Que se façam as trevas!"

Em 1968 o desenhista Neal Adams, conhecido por seu estilo altamente naturalista, apresenta seus esboços para uma história do Batman, pedindo ao então Editor Julius Schwartz uma chance como desenhista titular. Adams obtém como resposta um enfático “Keep-out” (pé na bunda, se prefirirem).

No início dos anos 70, Neal Adams e o roteirista Dennis O'Neil causam uma verdadeira revolução com os personagens Lanterna Verde e Arqueiro verde, pondo os dois lado a loado em histórias não tão comuns para a época. Ao invés de combaterem criminosos insanos ou ameaças intergalácticas, a dupla de heróis passou a se envolver em situações políticas e questões sócio-ambientais. Essa humanização proposta por Adams e O’Neil, revitalizou os personagens, reavivou o interesse dos leitores trazendo uma nova temática e, é claro, disparou as vendas. Nesse meio tempo Neal Adams foi escalado para ilustrar o Batman em "Brave and the Bold", um título complementar da DC no qual eram realizados alguns Team-Up's (aventuras baseadas em encontros de super-heróis). Nessa oportunidade, o desenhista eliminou de vez o traço caricato utilizado até então no personagem. O sucesso foi tão grande que, em pouco tempo, Brave and the Bold passou a focar apenas encontros do Batman com outros personagens. Seu desenho anatomicamente perfeito e com um incomparável domínio de técnicas de luz e sombras apresentaram um Batman muito mais coerente com a proposta inicial de Kane e Finger, sem mencionar que as histórias voltam a ser ambientadas, predominantemente, à noite.
Lanterna e arqueiro: Heróis envolvidosem questões sociaisCena na qual o Arqueiro verde descobre que seu aprendiz, Ricardito,estava viciado em drogas. 

A voluptuosa Tália.
A perfeição anatômica no traço de Adams
e a tentativa de masculinizar o herói até então ridicularizado.
O traço de Adams causa um frenesi nos leitores e com o sucesso das vendas, consequentemente, os editores da DC passam a ele os todos os títulos do Batman. Neal Adams e Dennis O’Neil foram responsáveis pela criação, em 1971, de um dos personagens mais interessantes da galeria de vilões do Batman: O Imortal Rã’s Al Ghul ( رأس الغول em árabe, que pode ser traduzido como “cabeça do demônio” e também é um dos nomes atribuídos à estrela Beta Persei [também conhecida como Algol] da constelação de Perseu). Recentemente, Foi interpretado no cinema por Liam Neeson no Filme “Batman Begins”. No mesmo ano a dupla criaria A estonteante Tália, a filha de Rã’s Al Ghul, com quem o Batman veio a ter um filho na Graphic Novel “O filho do demônio, publicada em 1989.

Ao ser indagado por seu editor sobre qual seria o motivo de tanto sucesso, Adams é incisivo em sua resposta: "É porque esse é o verdadeiro Batman! Qualquer garotinho americano sabe disso. Ironicamente, os únicos que parecem não saber são vocês!”.
Muito realismo e um fascinante domínio de técnicas de luz e sombras fizeram o desenho de Neal Adams ganhar destaque. Acima: Cena de Batman #244 de 1971, uma das sequências mais esteticamente impressionantes.

 O Batman pós Crise

A morte da Supergirl em
Crise nas infinitas terras.
Mesmo com os leitores satisfeitos e com todo o sucesso nas vendas, algo ainda estava muito errado nas entrelinhas do universo do Batman (e de todos os outros personagens da DC). A cronologia do personagem era um emaranhado de impossibilidades e fatos absurdos. O principal motivo: sempre que um roteirista criava uma história que mais tarde viria a ser vista como insensata, usava-se a desculpa de que aquele fato específico se deu em um universo paralelo, sem que isso tenha afetado a realidade do verdadeiro batman. O grande problema é que após tantas histórias absurdas e tantas supostas realidades alternativas, já não se sabia qual era a verdadeira realidade. Todos os personagens da DC comics possuíam versões de si mesmos em incontáveis outras terras localizadas em alguma dessas realidades. Para por um fim a esta balbúrida foi criada em 1985 a saga “Crise nas Infinitas Terras”, um evento colossal que envolveu todos os personagens da editora com a proposta de remodelar o toda a cronologia e manter um único universo.
O flash morre para destruir o canhão de anti-matéria
 do anti-monitor.


No decorrer da crise, vários fatos marcantes foram acontecendo no intuito de, literalmente, destruir universos e personagens desnecessários, ou mesmo dar uma nova roupagem aos que permaneceriam. O Flash da era de prata (Barry Allen) morreu tendo sua energia dissipada enquanto corria mais rápido que a luz e rompia a barreira do tempo. A supergirl, prima do superman, criada em Action Comics #252 (Maio 1959), também falece em uma batalha contra o anti-monitor (ser que, supostamente, desencadeou a crise e pretende destruir todos os universos).

Ao fim da crise, todos os personagens tiveram suas histórias remodeladas e suas origens recontadas. Para cada grande herói foi elaborado um time de roteiristas e desenhistas com a missão de reinserir esses mesmos heróis num contexto mais moderno e cientificamente coerente. Com o Batman não foi diferente.


A primeira grande história pós crise do morcego foi “O Cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight Returns), lançada em 1986, na qual Frank Miller nos traz um Bruce Wayne já em idade avançada retornando à atividade após dez anos de silêncio. A história é aclamada por muitos leitores até hoje como o mais incrível trabalho já produzido para o Batman, quiçá, a maior trama das histórias em quadrinhos. Vemos aqui um Batman mais sombrio do que nunca em um futuro no qual a ação de super-heróis foi sumariamente proibida pelo governo norte-americano e o Superman tornou-se o “leão de chácara” do presidente. A cidade de Gotham vive dias de tumulto, governada por gangues e terroristas... até que o cavaleiro das trevas ressurge. A história possui momentos simplesmente épicos como os últimos momentos de vida do coringa e o confronto definitivo entre Batman e Superman.
A épica batalha entre Batman e Superman.





Cena que serviu de inspiração para
Batman Begins
No ano seguinte, Frank Miller, agora na companhia do desenhista David Mazzucchelli, é incumbido de recontar a origem do personagem no fantástico “Batman: Ano um”. Pela primeira vez, uma história mostrou os primeiros dias de Bruce Wayne como vigilante de Gotham. Miller fazia questão de expor a inexperiência de Bruce, como no momento em que ele se dirige ao subúrbio disfarçado apenas com roupas comuns e maquiagem e, após uma briga com um cafetão e algumas prostitutas (entre elas, Selina Kylle, que mais tarde viria a se tornar a Mulher Gato), é baleado por policiais e volta para casa gravemente ferido. É nesse momento que um morcego estilhaça sua janela e lhe traz a inspiração do que seria necessário para implantar o terror nos corações dos criminosos. Ano um ainda mostra a chegada do então tenente James Gordon e o início de sua incursão contra a corrupção na polícia de Gotham.

O momento de inspiração.
A era moderna (pós-crise) trouxe, além de uma nova roupagem, novos conceitos para os quadrinhos. Com o enfraquecimento do código de conduta imposto nos anos 50, as histórias de super-heróis passaram a exibir uma carga psicológica mais densa, assim como um certo apelo à violência. Para o Batman, essa foi a porta de entrada para a morte em família.
A morte entre personagens de quadrinhos nunca foi um conceito muito disseminado. A ideia de que um ícone da superioridade humana, fosse susceptível também às fragilidades humanas, não parecia muito vendável.

O coringa espanca o menino prodígio
 à vista de sua mãe.  Ambos morrem.
Em 1988, tudo isso vem abaixo. Na trama bolada por Jim Starlim (roteiro) e Jim Aparo (desenhos) e intitulada “A morte de Robin”, vemos um brutal assassinato. Jason Tod, o segundo Robin (que assumiu o manto após o primeiro Robin, Dick Grayson, ter deixado a mansão para seguir carreira solo, tornando-se mais tarde o líder dos Novos Titãs, sob a alcunha de Asa Noturna), após uma série de desentendimentos com o Batman, em função de seu temperamento irascível, dirige-se a Israel seguindo pistas de sua mãe biológica. Após uma busca ao longo de dois países, vai para em Adis Abeba na Etiópia, onde é traído por sua mãe que o leva a uma emboscada preparada pelo Coringa. É aí que entra a parte interessante da história: na época, a DC propôs aos fãs uma votação por telefone para decidir o destino do menino prodígio; seria salvo pelo Cruzado de capa, ou assassinado pelo palhaço do crime? Por uma diferença de apenas 72 votos (5.343 contra 5.271), os leitores optaram pela morte do Robin.

Diferente de seu antecessor, Jason Tod não despertava a mesma simpatia nos leitores. Sem dúvida, sua personalidade agressiva era um fator determinante para isso; mas, infelizmente por um vacilo da editora abril (que pulou a publicação de uma das edições do arco de histórias que culminou na morte de Robin), a maioria dos leitores brasileiros nunca teve ciência de um fato de enorme relevância para essa decisão do público americano: nessa malfadada história, fica a dúvida se Jason teria jogado um bandido pela janela de um apartamento ou se teria sido tudo um acidente. Sendo um assassino em potencial, o jovem caiu no desgosto dos leitores. Em uma das cenas mais brutais já publicadas, é surrado com um pé de cabra e, logo em seguida, morre junto com sua mãe na explosão de um galpão. Numa infeliz ironia, o Cavaleiro das trevas se vê impossibilitado de vingar a morte de seu pupilo, já que o inimigo ganha imunidade diplomática ao ser nomeado, embaixador do Irã junto às Nações Unidas, pelo aiatolá Khomeini. Mais tarde, o Superman se junta à trama para evitar que o Batman perca o controle e cause um incidente internacional.
O homem morcego entra na era moderna de forma violenta, pendendo entes queridos e sofrendo traumas irremediáveis...
... Mas isso é apenas o começo do fim.
Morte em família: Batman carrega o corpo de Jason em meio aos destroços.